O controle biológico clássico de plantas, embora não seja barato, é uma alternativa duradoura que preenche vários requisitos, tais como exigências ambientais e econômicas. Após a Segunda Guerra Mundial, vários países intensificaram a busca de agentes naturais e específicos para o controle biológico de plantas.

Há elevado número de casos de sucesso no controle de plantas invasoras na Austrália, África do Sul, Estados Unidos, Indonésia e Nova Zelândia. Os dois sistemas de controle biológico de plantas, o "clássico" (via curta e tradicional) e o "não clássico" podem resolver problemas causados pelas plantas indesejáveis e/ou invasoras, mas deve-se ter em mente que não é uma tarefa para amadores.


Controle Biológico Clássico Via Curta e Tradicional

O sistema de controle biológico clássico de plantas invasoras é uma alternativa que preenche vários requisitos ambientais e econômicos. Duas são as possibilidades de aplicação do sistema: a) clássico - via curta (the short route),e b) clássico tradicional.

O primeiro, via curta, baseia-se na utilização de artrópodes introduzidos previamente em outros países e com sucesso comprovado no controle de uma planta alvo. O segundo, o tradicional, requer a busca da planta alvo no país de origem e exige uma série de pré-requisitos até que se possa ser utilizado.

Suas principais fases ou etapas de evolução são:

  • Identificação do problema e seu local de ocorrência;
  • Dimensionamento de sua extensão e de seus danos ao meio ambiente e/ou à economia;
  • Identificação da origem (país) da planta alvo;
  • Estabelecimento de relações com as entidades científicas na origem;
  • Solicitação de cooperação através de um convênio científico;
  • Iniciação da exploração e seleção de inimigos naturais associados à planta alvo;
  • Identificação e seleção de inimigos naturais com caráter específico à planta alvo;
  • Realização na origem de estudos taxonômicos, bioecológicos e testes em laboratório e campo;
  • Desenvolvimento de técnicas de criação massal do "agente(s)" na origem;
  • Importação via serviço de quarentena com a permissão oficial do MMA e MAPA;
  • Repetição de todos os testes anteriores na quarentena com toda a gama de plantas comerciais;
  • Solicitação de permissão aos órgãos públicos (MMA e MAPA) para liberação em campo;
  • Realização da criação massal para atingir elevada quantidade para liberação;
  • Liberação em campo em época (estação sazonal) adequada;
  • Realização de estudos sobre pós-liberação e o estabelecimento do " agente ( s )" no campo;
  • Avaliação dos resultados obtidos após a liberação sob a ótica dos custos e benefícios.


Controle Biológico não Clássico ou Inundativo

Este sistema de controle biológico baseia-se na utilização de um inimigo natural do próprio ecossistema onde a planta alvo é invasora. Os casos de sua utilização são raros. Em verdade, o controle biológico não clássico só pode ser cogitado quando a planta alvo é nativa e seus inimigos naturais também são nativos. A ação conjunta de predadores e de parasitóides reduz a atuação do agente, pois este é o principio natural da sobrevivência de espécies na natureza. Com isso, o efeito desejado do agente de controle é minimizado tornando o empreendimento caro, visto que há sempre necessidade de novas liberações, cujo sucesso depende da criação massal do agente de controle. O hiperparasitismo torna-se um importante aliado para alcançar sucesso no empreendimento.


Especificidade

Em qualquer um destes sistemas, o sucesso depende exclusivamente de encontrar o "agente" certo, específico, e que sua reprodução em cativeiro seja economicamente viável. Para que um inimigo natural seja denominado de “agente de controle biológico”, é necessário que ele seja submetido a uma série de testes de especificidade em laboratório e no campo. Passando por todos os testes, então pode ganhar a denominação de "agente ". Na maioria dos casos, dentro do filo Artropoda, a Classe Insecta é onde se encontra a maioria dos agentes usados no controle biológico de plantas.


Sucesso

O sucesso em controle biológico de planta ocorreu pela primeira vez na Austrália, onde foi utilizado o piralídeo, Cactoblastis cactorum (Bergroth) (Lepidoptera: Pyralidae), originário da Argentina, para controlar Opuntia spp. (Cactaceae). O êxito registrado em 1933 na Austrália foi um dos motivos para que vários países passassem a adotar o controle biológico de plantas. Atualmente, 2004, vários países tornaram-se líderes mundiais em controle biológico de plantas, entre eles destacam-se: África do Sul, Austrália, Canadá, Estados Unidos, Indonésia e Nova Zelândia.


Integração de Medidas de Controle

Os agentes podem e devem, quando o caso permitir, ser manejados num plano integrado de controle de uma planta invasora. O uso de produto químico, meio mecânico e de práticas culturais podem corroborar para o sucesso em menor tempo de um projeto de controle biológico. Aqui o planejamento é indispensável e deve fundamentar-se no critério "custo/benefício " e no risco.


Cooperação Internacional

Como foi mencionado acima, qualquer projeto de controle biológico clássico, para ter êxito, necessita de cooperação internacional para a exploração e prospecção de inimigos naturais no exterior. Torna-se indispensável a interação de pesquisadores dos dois países cooperados. O sucesso depende substancialmente do bom relacionamento dessa cooperação entre os parceiros.

Vários países estão avançados na prática cooperativa. A Austrália, África do Sul, Canadá, Estados Unidos e a Nova Zelândia investem consideráveis importâncias na busca da cooperação internacional nos mais diversos cantos do mundo. Na Suíça (Delomont), na França (Montpellier) e na Argentina (Hurlingham) existem institutos e laboratórios subvencionados pelos Estados Unidos da América e pelo Canadá, cujos trabalhos científicos visam à prospecção de inimigos naturais na Europa e na América do Sul.

A Austrália, por exemplo, já manteve laboratório de prospecção em Curitiba, Paraná. Por vários anos, na década de 70, foram realizadas explorações e buscas de inimigos naturais de plantas brasileiras que são invasoras naquele distante país. A Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná, conveniada com a Universidade Federal do Paraná, coopera com a Universidade do Havaí, em Manoa, e com a Universidade da Flórida desde o início dos anos 90. O Instituto de Pesquisa de Proteção de Plantas da África do Sul e mais recentemente a Landcare, da Nova Zelândia, a exemplo das anteriores, estabeleceram vínculos com a FUPEF para atingir o mesmo objetivo.


Cooperação e Parcerias Internas

O controle biológico é uma ciência que depende de recurso financeiro e também de cooperação e intercâmbio de recurso humano, informações e conhecimentos, para que um projeto seja plenamente executado em todas as suas etapas. Na atualidade, apesar dos avanços, nenhuma entidade brasileira encontra-se isoladamente apta e preparada para executar um projeto desta natureza. A começar pela disponibilidade de recurso financeiro.

O êxito e o bom desempenho de programas de estudos e pesquisas passa pela qualificação do recurso humano e pelo apoio financeiro. A UFPR, sabedora deste princípio, vem desde o inicio dos anos 90 formando pesquisadores no mais alto nível acadêmico, cujo objetivo principal foi colaborar na composição de uma “massa critica nacional”. Esta deverá ser capaz de compreender e liderar ações no controle biológico de plantas e também ser um fator multiplicador. Deste modo, não somente o corpo docente da UFPR ficou capacitado, mas capacitou docentes/pesquisadores para o corpo docente de outras congêneres brasileiras. Docentes formados em Curitiba e que atuam na área de ciências agrárias e ambientais atingiram elevado nível acadêmico (mestres e doutores).

Hoje estes mestres e doutores desempenham suas funções em entidades paranaenses e catarinenses que também se encontram executando projetos de controle biológico de plantas. Ao abraçarem esta causa, as entidades estão contribuindo para a formação e a elevação da massa critica brasileira em quantidade e qualidade. Por outro lado, o aspecto multidisciplinar do controle biológico de plantas exige a interação destes especialistas, o que eleva mais ainda o nível e a capacidade de realização de projetos. Assim a cooperação tornou-se uma obrigatoriedade.

Devido ao conceito, caráter e necessidade do controle biológico de plantas, este fenômeno tornou-se uma realidade. Plantas exóticas têm uma elevada probabilidade de se tornarem invasoras e/ou daninhas. Isso decorre do fato delas não mais estarem sujeitas aos seus inimigos naturais na nova área de introdução. Se a planta tem características como plasticidade quanto ao clima e encontra sítios compatíveis, desenvolve maior potencial invasor, principalmente quando vegeta em população agregada. O caráter de uma planta ser ornamental e/ou ter indicações para uso medicinal resulta em uma forte propensão a se tornar invasora.

No caso brasileiro, de pouca experiência no controle biológico de plantas, as parcerias e cooperações entre congêneres nacionais são uma necessidade óbvia e uma realidade concreta. O Grupo de Pesquisa de Controle Biológico de Plantas vem, desde há anos, interagindo para atingir o seu objetivo. O exemplo conhecido é a integração cooperativa existente entre a Universidade Federal do Paraná, a Fundação Universidade Regional de Blumenau e a Universidade Estadual de Londrina que juntas executam o Projeto Amarelinho. Paralelamente, o Grupo de Pesquisa de Controle Biológico de Plantas interage com as congêneres: Universidade Estadual do Centro Oeste - Campus Irati, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Universidade Federal de Viçosa, Universidade Federal de Santa Catarina e Universidade Federal de Pelotas.

Com este "pool científico", a cooperação e o intercâmbio com quatro instituições internacionais ficou facilitado. Os resultados são promissores e com excelentes possibilidades de intensificar e ampliar cada vez mais a atuação. O Instituto de Pesquisa de Proteção de Plantas - Conselho de Pesquisas Agrícolas da África do Sul, em Pretória, já manifestou seu desejo e interesse de integrar o Grupo de Pesquisas brasileiro envolvido com o Projeto Amarelinho. Esta planta está também na lista de prioridade daquele país. Deste modo poderá, no futuro, surgir uma parceria entre Brasil, México e África do Sul para a busca dos inimigos naturais do amarelinho.


Ensino e Pesquisa

Neste particular a Universidade Federal do Paraná - UFPR, Fundação Universidade Regional de Blumenau - FURB, Universidade Estadual do Centro Oeste - UNICENTRO, Universidade Estadual de Londrina - UEL e a Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG, juntamente com a Universidade Federal de Viçosa - UFV e a Universidade Estadual do Estado de São Paulo - UNESP em Jaboticabal, tornaram-se pioneiras na pesquisa e na formação de Recurso Humano altamente qualificado para conduzir programas de Controle Biológico de Plantas.

Em Curitiba a UFPR realiza estudos e pesquisas sobre o tema desde 1990 e, a partir 1995, capacita recurso humano especializado e de elevado nível para o controle biológico de plantas invasoras. Em Blumenau a FURB e em Irati a UNICENTRO realizam também estudos e pesquisas sobre o Controle Biológico de Plantas há cerca de cinco anos. Enfim, todas estão imbuídas dos mesmos ideais e das mesmas tarefas acadêmicas, ou seja, todas ensinam, treinam e pesquisam sobre o Controle Biológico de Plantas.

Há também aquelas que contam com pessoal qualificado em Curitiba, como a Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC e o Centro Federal de Educação Tecnológica - CEFET - Campus de Campo Mourão que, se desejarem desenvolver programas de ensino e pesquisas neste campo, dispõem de pessoal apto e qualificado.

Além disso, a Universidade Federal de Pelotas - UFPEL e a Faculdade de Veterinária de Bagé, no Estado do Rio Grande do Sul, estão realizando trabalhos de diagnósticos de intoxicação por plantas nativas (Complexo Senecio ) invasoras de pastagem. Graças a estas entidades pioneiras de ensino e pesquisa no Brasil, programas e projetos de Controle Biológico de Plantas avançaram tanto no âmbito nacional como na cooperação internacional. Seus pesquisadores são parceiros de projetos internacionais.

Este fato já foi reconhecido fora do Brasil, tanto é que no X Simpósio  Internacional de Controle Biológico de Plantas Daninhas - Canberra, Austrália, 2003 foi elogiado o progresso havido nos últimos 15 anos no Brasil.

Falta o próprio governo brasileiro reconhecer e prestigiar o trabalho dos grupos de pesquisas sobre o controle biológico de plantas.

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