A disseminação antrópica
de plantas, involuntárias ou técnica, aumenta
assustadoramente em todos os continentes. O fenômeno
da disseminação de plantas pelo mundo as
torna em: indesejáveis, daninhas e/ou invasoras,
decorrendo daí alterações ambientais
graves em novos ecossistemas.
O araçazeiro, ao lado de outras
plantas invasoras, é um exemplo catastrófico
no Arquipélago do Havaí e a aroeira está
ameaçando a integridade do Parque Nacional do Everglades
no Sul da Flórida. Na Austrália, Nova Zelândia
e na maioria de Ilhas do Pacífico Sul, incluindo
o Arquipélago do Havaí, a agressão
à flora e à fauna chega à beira da
extinção de espécies nativas. Os
usos de produtos químicos, meios mecânicos
de controle são caros e inconvenientes à
saúde do meio ambiente.
Plantas Exóticas Invasoras
Quando fogem ao controle do ser humano,
ganham as denominações de daninhas (weeds),
indesejáveis ou invasoras (invasive).
Na verdade, este fenômeno é desencadeado
pelo ser humano que as transporta de um lugar a outro,
país e/ou continente, e lhes dão condições
para tal.
Isso não é recente, pois,
desde que o homem primitivo aprendeu a cultivar as plantas
e a imigrar, transportou-as consigo. A partir do início
das grandes navegações, onde a civilização
européia tornou-se poderosa e dominou as rotas
pelos oceanos, plantas e animais passaram a serem transportados
e incorporados a outros biomas.
Hoje o fenômeno apenas ganhou velocidade
graças ao meio de transporte aéreo. Com
isso o fenômeno pode ocorrer em pouco tempo. Os
obstáculos que as plantas enfrentam, quando eles
existem, são os serviços de fiscalização
alfandegária (aeroportos e portos marítimos).
Estes serviços de fiscalização são
necessários e podem impedir a entrada clandestina
de sementes, mudas, estacas, etc. É comum o turista
transportar estas formas vegetativas em sua bagagem, especialmente
de plantas ornamentais. Por outro lado, dentro de um mesmo
país ou continentes plantas nativas são
transportadas de um lado para outro sem nenhuma possibilidade
de controle.
Nos países continentais como o
Brasil, Estados Unidos, Canadá, China e Índia
as plantas são transportadas de um lugar a outro
com facilidade. Com isso vão para habitats onde elas nunca existiram e onde não têm
inimigos naturais, neste caso acabam fugindo ao controle.
As atividades humanas, ao alterarem o meio ambiente, podem
favorecer as plantas e até os próprios animais.
Em condições alteradas, as plantas se transformam
em verdadeiros "monstros verdejantes"
para o meio ambiente e para a economia local.
O Complexo Senecio (Asteraceae),
com seis espécies nativas no sul do Brasil, é
um exemplo vivo de planta nativa fora do controle humano.
Já o amarelinho, da família Bignoniaceae,
é uma planta exótica que também fugiu
ao controle humano e tornou-se uma invasora nos estados
sulinos do Brasil. No primeiro exemplo registra-se anualmente
a morte de cerca 45.000 bovinos no Rio Grande do Sul.
O amarelinho impede o uso 10.000 hectares para
fins de pastagem no Paraná.
Para alguns autores as plantas invasoras
constituem a segunda causa mundial de perturbação
ambiental. A primeira é a ação direta
do próprio homem que, ao executar obras civis,
lavouras e cidades, deixa um rastro de transformações
ambientais. Há um consenso generalizado entre os
pesquisadores de que, em cada centena de plantas exóticas,
três delas tornam-se indesejáveis, invasoras
e/ou daninhas. Para realizar o controle delas em novos habitats, devem ser observados vários
conceitos e princípios.
Brasil
O Ministério do Meio Ambiente
e o Ministério da Agricultura, Produção
e Alimentação já despertaram suas
atenções para esta problemática.
Com isso a legislação está procurando
colocar "ordem na casa" e dar as diretrizes
legais para o comércio de plantas e animais e também
para evitar a " biopirataria ".
Há entidades do ensino superior,
de pesquisas e do "terceiro setor"
(ONGs), alertando as autoridades e a opinião pública
para o problema. Estas entidades estão promovendo
a formação e o treinamento de recurso humano
e ainda realizando trabalhos de investigação
científica. Entretanto é recomendável
prudência ao tratar do tema importação
de plantas exóticas, pois há "trigo
no meio do joio", ou seja, há aquelas
plantas que podem ser de interesse para a comunidade brasileira
e sua importação não pode ser evitada,
mas há aquelas que não devem ser permitidas
a entrada no território brasileiro.
O lado positivo pode ser facilmente reconhecido,
para isso basta fazer uma pequena retrospectiva e verificar
os benefícios econômicos que o café, Coffea arabica L. (Rubiaceae) trouxe e ainda
traz para agricultura brasileira. Outros exemplos podem
ser citados, entre eles destacam-se os benefícios
trazidos à silvicultura brasileira pelas espécies
do gênero Eucalyptus (Myrtaceae), cujas
plantas em mais de um século no Brasil ainda não
demonstrou nenhuma agressividade ao meio ambiente brasileiro,
embora haja controvérsia para o cidadão
leigo.
O lado negativo é plantas como
o amarelinho, Tecoma stans (L.)
Juss. ex-Kunth. (Bignoniaceae) e a uva-do-japão, Hovenia dulcis Thunb. (Ulmaceae) que
causa conflito de interesse e prejuízos ao meio
ambiente e à economia. Portanto as autoridades
brasileiras não podem simplesmente proibir a importação
e/ou introdução de espécies exóticas,
sejam elas vegetais ou animais, mas para isso não
pode abrir mão de um "Programa de Análise
de Risco” para estes seres vivos.
Os "Custos e Benefícios", uma vez analisados sob a ótica científica
e do bom senso, também podem ser uma maneira inteligente
para tomar as decisões cabíveis para cada
caso de importação. Daí decorre a
capacitação de recurso humano brasileiro
especializado em Análise de Risco e que
se faça presente em todo o território e
não torne apenas um privilégio de grupos
e/ou de entidade pública e/ou privada.
Paraná
Neste particular, em Curitiba, a Universidade
Federal do Paraná – UFPR,
tornou-se uma das pioneiras, pois realiza estudos e pesquisas
sobre o tema desde 1990. Há mais de uma década
(1995) prepara e forma recurso humano especializado para
o controle biológico de plantas invasoras, além
disso, coopera em planos de pesquisa de caráter
nacional e internacional. Seus pesquisadores são
pioneiros nesta ciência e graças às
parcerias e cooperações nacional e internacional
registra-se um acelerado avanço. Tanto é
que no X Simpósio Internacional de Controle
Biológico de Plantas Daninhas - Canberra –
Austrália (2003) foi chamada à atenção
do plenário para verificar o progresso havido nos
últimos anos no Brasil.
Laboratório e Campo
Há uma década e meia (1990)
a Universidade Federal do Paraná realiza pesquisas,
mas somente a partir fevereiro do ano de 2000 foram realizadas
melhorias no Laboratório Neotropical de Controle
Biológico de Plantas. Esta melhoria possibilitou
uma parceria com a Fundação Universidade
Regional de Blumenau e a Universidade Estadual de Londrina,
cuja participação abrange todo território
nacional. Em 1991 foi implantado um arboreto no
Campus Juvevê (Antiga Escola de Florestas), em Curitiba,
para dar suporte aos experimentos de campo aberto e do
próprio laboratório.
Nele realizou-se plantio de espécies
das famílias: Anacardiaceae e Myrtaceae. No decorrer
dos anos outras espécies passaram a fazer parte
da composição do arboreto. São várias
espécies das famílias: Asteraceae, Bignoniaceae,
Commelinaceae e Solanaceae. Com isso satisfaz parcialmente
as necessidades dos projetos nacionais e estrangeiros
(cooperação) e dá aos acadêmicos
da Universidade Federal do Paraná condições
para participarem nos projetos de pesquisas
no laboratório e no campo.
Fazenda Canguiri
A partir de agosto de 2003 o Centro
de Estações Experimentais do Canguiri –
Fazenda Canguiri - concedeu ao LNCBP a oportunidade de
expandir suas atividades de campo. O Centro encontra-se
localizado dentro da APA, Área de Preservação
Ambiental do Alto-Iguaçu. Esta localização
e a proibição do uso de produtos tóxicos
(inseticidas, herbicidas e outros) dão ao LNCBP
excelentes possibilidades para executar testes de
especificidade com os bioagentes candidatos ao controle
biológico de várias espécies
de plantas invasoras.
Formação
e Capacitação de RH
Uma das metas, dentro desta nova área
da ciência ambiental, é a formação
de recurso humano especializado para o controle biológico
de plantas (daninhas, invasoras ou indesejáveis).
Embora pequena, face aos problemas nacionais, 10 trabalhos
de pós-graduação, cinco teses de
doutorado e cinco dissertações de mestrado
foram concluídos entre 1995 e 2002.
Acadêmicos de graduação
em Biologia, Botânica, Engenharia Agronômica,
Engenharia Florestal e Medicina Veterinária são
contemplados com bolsas de iniciação científica
– IEL – Instituto Euvaldo Loide/ Fundação
de Pesquisas Florestais do Paraná. Assim tornam-se
pesquisadores juniores. Inclusive estudantes do segundo
grau tiveram chances de ser contemplado com bolsas na
qualidade de auxiliares de laboratório e campo.
Cooperação
São fatos consumados a cooperação
e o intercâmbio com congêneres nacionais,
tais como Universidade Federal de Pelotas, Universidade
Regional de Blumenau, Universidade Federal de Santa Catarina,
Universidade Federal de Viçosa, Universidade Estadual
do Centro Oeste, Universidade Estadual de Ponta Grossa
e a Universidade Estadual de Londrina.
Há também cooperação
e intercâmbio com quatro instituições
internacionais, sendo duas norte americanas, uma da Nova
Zelândia e uma da África do Sul. Elas são
a Universidade do Havaí em Manoa - Honolulu, a
Universidade da Flórida - Gainesville, o Instituto
de Pesquisa de Proteção de Plantas - Conselho
de Pesquisas Agrícolas da África do Sul
- Pretória e Hilton e mais recente com Divisão
de Pesquisa de "Landcare" de Lincoln - Nova
Zelândia.
Foram selecionadas cerca de duas dezenas
de insetos potenciais para o controle biológico
foi selecionada, cujos estudos científicos estão
avançados. Eles deverão, num futuro próximo,
atuar como "agentes" específicos
de controle biológico de plantas indesejáveis
(tóxicas e invasoras) no Brasil, nos Estados Unidos
da América, na Nova Zelândia e na África
do Sul.